terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

PARA SEMPRE - Carlos Drummond de Andrade

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e a chuva desaba.
Veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
-mistério profundo-
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma Lei:
Mãe não morre nunca,
Mãe ficará sempre
Junto de seu filho.
E ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho. 

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