(Gilka Girardello - reconto – versão de conto jamaicano)
Contam,
na Jamaica, que no tempo antigo, antes de o mundo ser mundo, vivia um ser meio
gente meio aranha chamado Anansi.
Pois, um dia, Anansi inventou de querer guardar só
para ele todas as sabedorias que existiam. Arranjou um grande pote de barro,
amarrou nele uma tira de couro e passou-a por trás do pescoço, para que o pote
ficasse dependurado na frente do seu corpo, e saiu pelo mundo. A cada vez que
ouvia alguém dizendo uma coisa sábia, ele a recolhia e jogava dentro do pote:
póc!
Por
muito tempo, Anansi andou pelo mundo de ouvido atento. Alguém falava uma
sabedoria e, pronto, lá ia a sabedoria- póc!- para dentro do pote. No começo,
ele ouvia sabedorias por todo lado, e o pote ia enchendo ligeiro: póc! póc! póc!
Aqui: póc! Ali: póc-póc! Ali mais adiante: póc-póc-póc!
Só
que, aos poucos, as sabedorias começaram
a ficar mais raras. Póc...póc... póc... E ele andava pelo caminho, carregando
aquele pote, horas e mais horas, dias e mais dias, sem escutar nenhumazinha só.
Até que, lá pelas tantas, ouvia uma coisa sabida e... póc! Lá ia ela para
dentro do pote junto com as outras.
Chegou uma hora em que Anansi percebeu que tinha parado completamente de
ouvir coisas sábias saindo da boca das pessoas. Nesse momento, ele soube que
tinha reunido para si toda a sabedoria do mundo.
Muito
orgulhoso, Anansi pensou:
_
Onde vou esconder o meu pote de sabedorias para que ninguém as encontre e elas
possam ser só minhas?
E
teve a ideia de esconder o pote no alto de uma palmeira muito alta. Começou a
trepar no tronco da palmeira, mas estava difícil, porque o pote pendurado à sua
frente atrapalhava os movimentos. Cada pouco que subia, escorregava e voltava para
baixo de novo, todo desajeitado.
Foi
então que Anansi escutou uma risada debochada:
_
Quaquaraquaquá! Que sujeito burro.
Olhando
para baixo, Anansi viu um menininho, que
continuou falando, entre gargalhadas:
_
Se o senhor quer subir pra frente, por que não pendura o pote nas costas?
Anansi,
apesar de muito indignado, não deixou de perceber que aquilo que o menino tinha
dito era, afinal, uma coisa sábia. Com muita raiva, atirou o pote de barro com
força no chão e todas as sabedorias se espalharam pelo mundo.
E
é por isso que, desde esse dia, cada pessoa sabe de algumas coisas, mas ninguém
sabe de todas.